segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Chronic Insatisfaction

Deus me livre dessa minha mania literária que não me permite viver na terra. Deus me livre. Essa poesia que vive em mim, mas nunca alcança o mundo em que vivo. Sofro de insatisfação crônica, tenho síndrome de viver cada personagem que leio, por encontrar um pouco deles em mim. Quero sempre então me transformar em outra, sou sempre atriz de mim mesma. Deus, aproveite, e me livre também desse amor pelos sentimentos e pelas vivências opostas do mundo. Essa beleza que consigo ver em tudo me faz desejar felicidade e ambicionar tristeza, ansiar pela incerteza e almejar rotina. O lirismo é tão grande que se espalha pelo mundo todo, fazendo de mim um mosaico que simultaneamente busca o sim e o não, o belo e o feio, o doce e o amargo. E ai de quem ousar me dizer que não posso ter tudo. Deus, por favor, me livre desse apreço pelo certo e pelo errado, pela alma e pela carne, por tudo que, no fim, faz de mim nada. Sou tudo, sou todo um vazio. Quero tanto, quero tudo e vivo em eterna busca vazia de nada. Deus me livre do amor, do ódio, da poesia, de mim.

domingo, 14 de novembro de 2010

Suicídio

Tenho hoje sede de morte. Se cada gota de vida que eu lhe dou é uma a menos em mim, uma pulsação a menos, então digo que tenho hoje sede de morte. Quero hoje me jogar no teu precipício e me afundar no teu oceano até que me falte ar, até que não sobre uma só parte de meu corpo intacta. Quero ser desfigurada pelo impacto e ao final estar irreconhecível. Hoje escolho despejar meu sangue sobre ti, ao invés de esperar que a terra o tome aos poucos de mim. Eu quero queimar a minha vida de uma vez num fogo muito forte. Porque no fim das contas eu sei que, na verdade, toda essa minha sede de morte, não passa de fome de vida. Fome da vida nova que tenho descoberto cada dia do teu lado. Fome dessa felicidade que me toma, do prazer de morrer do teu lado. Hoje minhas lágrimas sorriem para você.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sonho vivo

Nunca as nuvens fizeram tanto sentido. Ultrapassei os limites do céu, vivo agora dentro dele. Sou menina, mulher e sou velha. Me encaixo em todos os padrões e não permaneço em nenhum. Cada noite sou outra pessoa. Estou em um eterno teatro onde interpreto cada dia um personagem diferente. E canto, danço, giro por entre as nuvens desse sonho. Me deixo levar pela trilha sonora cada dia diferente e pelos cenários que são poucos, mas sempre me levam a lugares diferentes. Meu céu anoitece e amanhece se enchendo de todas as cores possíveis, todas as emoções transbordam pelo meu corpo em uma intensidade jamais imaginável. Tudo é sonho e é ao mesmo tempo mais real do que nunca. O mundo ganhou cheiro e gosto. Eu agora sou vida. Todos os meus gestos são maiores do que jamais foram e todas as palavras ganharam sentido novo agora que saíram da prisão em que se encontravam na terra. Estou fora da estrada, do mundo, de mim.

Saí, vou ali viver e já volto.

domingo, 22 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Do que desejo

Quero pintar e não encontro pincéis
Quero amar e amor não há
E quero me despir na rua
Sem paredes
Sem altura
e o edifício me observa de longe
o frio me quebra os pés
E volto para dentro
deste apartamento
Ainda mais frio, mais distante
Tiro a blusa
e estou mais vestida do que nunca.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Tragetória

Me encontro em retorno. Em retorno de sonhos, devaneios e até de determinadas atitudes. Entretanto, não sei se há como ser retrocesso. Tendo em vista que não sou a mesma do momento em que retorno, determinados gestos, formas, manias, crenças e objetivos mudaram. Ou não. Mas sei que não sou a mesma, pois se vivi após o momento, é impossível que um dia retorne ao estado original. Sou química, não física. Entretanto esse retorno me faz pensar se, como sempre imaginei, há de fato um ciclo. Cada vez um ciclo diferente, maior ou menor, de outra cor, alguns com curvas e trepidações, outros mais escorregadios, mas não deixam de ser ciclos. E, por hora, me alegra saber que passarei por milhares deles, retornando, porém sem retroceder. Vivendo em espiral.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Santíssima Trindade

Se há algo em que acredito são em seres humanos. Seus corpos, almas e espíritos. Acredito em suas paixões, suas bondades, seus amores e loucuras, mas acredito mais ainda em seus pecados. Especificamente em seus pecados. Seus pecados físicos e sexuais, seus pecados românticos, seus pecados contra si mesmos e contra toda a humanidade. São estes que os fazem seres humanos, e são neles que eu acredito. Acredito em todo o caos dos segredos, dos desejos e dos vícios, em toda a escuridão que está na alma de todos nós. Eu acredito. Acredito pois na eterna união do corpo, da alma e do espírito, completamente indissociáveis. Portanto, se o pecado é a carne, saiba que não só sua carne, mas sua alma a pede. Se todas as fibras do seu corpo pecam, saiba que assim peca seu espírito. Logo, saiba que cada pecado é um pouco de você. Não há deslize, não há fraqueza. Só há você. A partir disso não há então porque ter arrependimento, sendo que todos os pecados são apenas um grito que ecoava na alma e no espírito e que em algum momento teve que transbordar corpo afora.