quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Máscara


Houvesse Carolina sido avisada do mundo para qual viria antes de nascer, com certeza escolheria outro. Mas não foi e veio. Veio no outono que é chique sem ser doloroso. Assim que veio Carolina observava o rosto das pessoas ao seu redor e não os entendia. Mesmo depois de ir para casa, de aprender a andar, falar, questionar e negar. Aliás, foi exatamente aí que começaram os maiores problemas e foi aí que ela começou a entender ainda menos tudo aquilo que a cercava. Cada vez que dizia a palavra “Por que?” ouvia de volta uma resposta meia-boca, a ausência de resposta ou pior que isso, ouvia para parar de perguntar tanto. Queria descobrir, saber, entender, ir a fundo em tudo que a cercava, não se contentava apenas em olhar, ela queria mais. Cada vez que dizia a palavra “Não” era um Deus que nos acuda, parecia que ela havia infringido uma lei nacional, quem sabe até mundial, parecia que era a pior criança do mundo. E quando rolava um “Não” seguido de um “Por que?” então não havia nada que assustasse mais a pobre garota. Afinal para aquele “Não” ser tão condenado, devia haver um “Porque”, certo? Bem, não era o que parecia. Carolina crescia enquanto sua cabeça dava cada vez mais nós e ela acabava se perdendo e pensando: que se tivesse sido avisada do mundo para qual viria antes de nascer, com certeza teria escolhido outro. Até que em todo esse processo de crescimento, um belo dia Carolina descobriu algo que mudaria sua vida para sempre: A Máscara. Ah quanta magia havia naquela máscara! Era inexplicável a reação positiva das pessoas ao seu redor quando ela estava usando a máscara, ao contrário de tudo o que tinha provado até então. Santa Máscara! A Máscara era formada basicamente de observação, aceitação e concordância. Claro que ao longo da vida Carolina fez questão de incrementar a Máscara com alguns atributos que a deixaram ainda mais bonita como maquiagens, etiquetas e boa postura, mas a base continuava a ser a mesma. A garota amou tanto o poder daquele novo instrumento que decidiu nunca mais tira-lo e assim foi se formando a menina toda bonita, querida, educada, alienada e castrada. Hoje Carolina e sua Máscara vivem felizes, em uma bela casa, com um belo emprego. Nos fins de semana vão ao Mc Donald’s, assistem comédias românticas, lêem livros de auto-ajuda e sentem algumas dores que o médico diz serem causadas por estresse. Não gostam de política, choram antes de dormir e ontem Carolina deixou sua filha Daiana de castigo devido a um desagradável “Não” seguido de um “Por que?” que a tola menina ousou falar. Ah, deixe só até Daiana encontrar uma máscara e poder desfrutar de toda a sua felicidade e paz.

Broken

Enquanto você não se deixa ser fraco, admitir solidão e tristeza, não há alegria alguma. Enquanto você não admite que foi errado o que fez naquele dia, que se sente pequeno nesse mundo infinito e que toda a sua pose não te representa numa madrugada sozinho, não há retrato que te salve. Enquanto você só cresce e aparece não transparece, continua sendo no fundo invisível. Enquanto você só se vende, não encontra nada de graça. Porque vitória só vem depois da derrota. E o sorriso não é espelho da alma porra nenhuma. Ou você se deixa quebrar para poder reconstruir-se ou será a vida inteira aquele vaso bonito de enfeite sem histórias nem memórias pra contar.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Ludov - Estrelas

Eu sei, você já parou de contar as estrelas do céu
E eu não, eu não posso mais te ajudar a dizer onde estão
Seu olhar pesado me prende ao solo
E eu sei, eu não posso mais flutuar
entre estrelas do céu que você apagou

Falta um pouco de luz nos seus olhos
e me dá saudade o seu rosto brilhando ao sol
Falta um pouco de amor no seu corpo
e eu não posso te dar pois em mim faltará também

Talvez, se a gente encontrasse um lugar pra recarregar nosso amor
então, quem sabe eu pudesse enxergar vida no que nos restou
e essa estrela morta brilharia um sol
Meu bem, o pouco que eu posso te dar
É tudo o que eu já te dei e que não te bastou

Falta um pouco de luz nos seus olhos
e me dá saudade o seu rosto brilhando ao sol
Falta um pouco de amor no seu corpo
e eu não posso te dar pois em mim faltará também

Eu sei que você vê tudo o que eu faço
Eu sei que você lê tudo o que escrevo
Escrevo pra você

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Efeito Cat Power

Se eu não brinco com você ainda te dou a opção de escolher se é por medo, culpa ou falta de vontade mesmo. E se eu não te explico exatamente é porque há muita coisa entre nós que não sei explicar exatamente, tal como também não há muita coisas entre nós e esse não eu consigo explicar menos ainda. Enquanto você brinca de se fazer de difícil daí e eu brinco de não estar nem aí paira no ar uma interrogação que só eu vejo e com a qual gosto de brincar. Pois é, com ela eu ainda gosto de brincar. Mas nessa brincadeira de decidir quem fica ou quem vai eu ainda opto pelos pontos finais, os quais por mais que me machuquem ainda me permitem ficar em cima, concreta. Pelas interrogações eu escorrego, pelas exclamações eu caio. Se não me visto com relacionamentos nem mesmo sentimentos não é por falta de vontade, mas pelo enorme trabalho que esse tipo de roupa dá, sabe como é, eu não sou muito de pegar na enxada. Só não me sinto nua porque ainda tenho a mim mesma e os milhares de trajes que visto diariamente, sabe, aqueles que ninguém vê. Nem você vê. E se por um lado esse mistério seja encantadoramente atraente a princípio, chega uma hora que ele enlouquece demais, e me chama tanto pro teu lado física e hedonistamente que eu sei: aí é a hora de parar. Lá se vai o meu discurso poligâmico de aproveitar cada momento como se fosse o último. Chega de brincadeira que criança eu não quero ser mais, ou pelo menos é disso que eu tenho tentado me convencer recentemente. E da próxima vez lembrem-me de não ouvir Cat Power de madrugada em plena crise existêncial, para não escrever textos gays como este.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Vegetarianismo

Eu achava em partes até meio chata essa mania vegetariana de ficar promovendo sua dieta para o mundo. Agora eu entendo.
A princípio assistindo o vídeo Earthlings, achei muito apelativo no sentido nu e crú da coisa. Porém fala de especismo o que eu achei muito interessante e plausível, mostrando como o que ocorre nos matadouros nada mais é do que "a lei do mais forte" e quem acha isso certo com certeza não acompanhou a evolução da espécie humana.
Não tinha coragem para assistir o documentário A carne é fraca
, pois imaginei que seria ainda mais forte, mas não. A carne é fraca aponta o vegetarianismo dos mais diversos pontos de vista profissionais: político, ecológico, psicológico, médico e espiritual. Transcendendo a "pena dos animais" e todos os mitos criados em volta do vegetarianismo, na construção somente de uma sociedade consumidora sem a mínima consciência que somos hoje em dia.
Na geração mc donalds as pessoas esquecem de se perguntar o que estão fazendo e por quê estão fazendo. Esquecem também de que há causas muito maiores no mundo do que aquilo que desejamos ou deixamos de desejar.
O maior problema em toda essa população consumidora é a matança comercial. Animais criados apenas para comércio são o que realmente nos trazem problemas. Não critico um pescador que precisa do peixe para viver. Porém a pescaria em massa, feita apenas comercialmente destrói rios, oceanos e todo um ambiente ecológico que nos envolve. O mesmo acontece na pecuária.
Um dado aleatório, mas que eu considero muito interessante: a produção de grãos de uma fazenda com 100 hectares pode alimentar quase 1.000, porém se a mesma área fosse utilizada como pasto, a carne produzida alimentaria 8 pessoas.
Existem tantos motivos para o vegetarianismo que não me atrevo a tentar citá-los todos aqui. É uma questão de compaixão, saúde, ética, consciência e responsabilidade.
Evolução na sua mente você pode, você faz. Evolução na sua vida, você pode, você faz. Eu acredito em um mundo vegetariano.

Ao compositor de destinos

Começo com esse porque eu gosto desse.

Tempo é tudo e tudo precisa de tempo. Tempo é o melhor analgésico que alguém pode usar para remediar-se. E ele não existe em relógios, calendários ou fases da lua, existe debaixo da pele, dentro do universo particular ímpar que somos. Com o tempo, cada um descobre o seu tempo. O mundo todo anda desesperado para fazer. É por isso que todo dia surge uma bomba, um robô, um aparelho fazendo apologia ao sedentarismo, enfim: uma droga entorpecente nova. Cadê a ordem natural dos fatos? Todo mundo quer fazer, mas se esquece de pensar e de sentir. De nada vale um livro bom, sem que alguém reflita sobre ele: aplicação não ocorre sem teoria. Ou pelo menos não deveria. No desespero do verbo e dos substantivos concretos, ficou para trás o abstrato. O que importa mesmo é o que se pensa, o que se sente, essas coisas que vêm da alma: valores, essências, sonhos, desejos e pontos de vista. O corpo nada mais é do que uma extensão da alma e não o contrário. De nada vale ser intelectual ou doutor se por dentro está tudo mofando, apodrecendo, na ânsia de projetar algo maior do que existe. Nenhuma construção cresce sem uma base bem cuidada. O ser é a base, fazer é mera conseqüência. Desacelere.