sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ninguém venha me dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferido,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser,
e não quero me encontrar,
que estou dentro de um navio,
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.
Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.
Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis quem não me quis.

Cecília Meireles

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ah, mas que cansaço me dá desvendar este corpo, não física, sequer sentimentalmente. Desvendá-lo psicologicamente, analisá-lo tal qual quem busca entender uma fórmula matemática. Ah, mas que cansaço! De onde vem tal paradoxo? Qual o princípio? Se os dedos que acariciam são os mesmos que apontam e o hedonismo do amor puro transforma-se no amor romântico, oh céus, que cansaço! Nunca vi razão tão má! Nunca vi racionalidade tão oposta ao sentimento ocilando no mesmo corpo de forma exteriorizada. Ora, mas que dificuldade pode haver na simplicidade de se amar? Do carinho e do contato. Mas não é óbvio que contato completo diz muito mais do que o olhar de fora? Olhar positivista. Olhar superiorizado. Não há elevação alguma nos julgamentos, na necessidade de moldar, no incômodo com as falas e formas alheias. Não, não há. Há elevação no amor. E há amor no amor. Só nele, em nada mais, sem nada mais.
Sem mais.