terça-feira, 30 de junho de 2009


O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada, também nada perguntou
Mal sei como ele se chama, mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração

terça-feira, 16 de junho de 2009

Rio pretérito

Mas era um rio tão grande, tão grande que quase seria chamado de mar, isso claro, se a água não fosse tão doce. Tão doce que chegava a amargar. Como remédio. E na verdade, veja bem, era um remédio. Um remédio tarja preta. E remédio é droga, e vicia. É, era um vício aquele rio, como todo bom remédio.

E quantas vezes procurei me libertar dele. E quantas vezes procuraram me tirar de lá. Mas eu voltava. Bastava um minuto de solidão para eu regressar ao rio. E lá nadava por horas e horas sentindo seu gosto doce, tão doce que o resto do mundo parecia ser salgado. Ah esse rio. Era composto de saudade, de nostalgia, de passado e de alegria. Eu mergulhava, toda vez um pouco mais. No meu rio de tudo o que já foi. E foi bom.

Mas eu fui indo e fui tão fundo nesse rio que estava quase afogando. E eu iria, me afogar com gosto e com vontade. E teria uma morte doce, tão doce que chegaria a ser amarga. Mas eu ia.

Até que nadando, tão fundo nesse rio, submersa em minha própria melancolia, sentido desejos que eu nem sequer tenho mais, apareceu. Ah, mas apareceu algo que não deveria aparecer, não deveria estar ali. O ria era de saudade e solidão. Mas ele veio e me encontrou, no meio do meu rio de passado ele ousou entrar como que só para me lembrar que ele existia. Mas não foi só isso que aconteceu em mim. Era o presente.

Mas quem diria. Quando eu quase me afogava quem veio foi o presente. E eu mergulhada no antes parei para olhar o agora. E não só olhei, eu o vi. Eu o vi e percebi que um dia ele será meu antes também. E eu sentirei tanta falta desse antes quanto sinto agora do outro. Pois eu o amo. Amo o presente, tal como amei o passado. Amo de forma verdadeira e profunda. E ele é bom, o hoje é bom e me faz bem. Não o mesmo, mas um bem equivalente ao bem que um dia o ontem me fez.

E foi ele que me trouxe de volta para a margem, sem nem me puxar, nem nada, mas eu fui. Eu realmente fui. E deixei meu rio. Meu rio tão bom e tão doce. Pois o resto do mundo não é salgado, é doce também. E é tão doce que um dia também irá virar rio. E eu só posso voltar a ele e o sentir doce se eu o tiver vivido. Vivido como ele é. Intenso, forte, profundo. E o mais importante de tudo: É hoje. E eu o amo.