quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.

Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor,
dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.

Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo
e nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.

Meu amor te escrevo feito um poema
de carne, sangue, nervos e sêmen.
São versos que pulsam, gemem e fecundam.

Meu poema se encanta feito o amor dos bichos
livres às urgências dos cios
e que jogam, brincam, cantam e dançam
fazendo o amor como faço o poema.

Quero a vida às claras superfícies
onde terminam e começam meus amores.
Eu te sinto na pele, não no coração.
Quero do amor as tenras superfícies
onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.

Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor,
mas virá sempre antes, não depois da excitação.

Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo
e não gozo mais porque eu te amo.
Não há limites para o fim de um grande amor.

Nossa nudez, juntos, não se completa nunca,
mesmo quando se tornam quentes e congestionadas,
úmidas e latejantes todas as mucosas.
A nudez a dois não acontece nunca,
porque nos vestimos um com o corpo do outro,
para inventar deuses na solidão do nós.
Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.

Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.
No amor, jamais nos deixamos de completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.

O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto. Ponto.


Roberto Freire (L) - AMO! *.*

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Carência

Descobri no fundo a carência, sabe como é, estava tão escondida que eu nem me preocupei mais em tentar encontrá-la. Até que uma noite apareceu, assim como quem nada quer, quietinha e sem intenções de mudar nada ao meu redor. Porém lá estava ela e eu não podia ignorar - é pequena, mas é minha, é válida - então resolvi cuidar. Alimentei-a. Tão frágil no começo e depois de tantos chocolates começou a tomar forma. Foi até bonito vê-la crescer, como eu sei que ela não costuma fazê-lo e fazia tanto tempo que eu não a encontrava, fui cada vez alimentando mais, fazendo carinho, mas cuidando para ainda assim escondê-la. Mas há um momento em que ela fica grande demais e corre demais atrás de mim. Começa devagarzinho no meio da noite enquanto eu tento dormir, até que vai se alastrando, quando eu ví ela já estava passando dos limites. Queria ficar comigo sempre: Em cada texto que eu lia, cada madrugada na internet, cada refeição, cada jogo do Corinthians, chegou a pedir até para ir para a balada uma vez, mas eu não deixei. Alimentei-a tanto que em determinado momento começou a crescer por conta própria. Até que uma hora ou outra ela precisa sair e decompor-se em palavras. Só assim ela torna a assumir seu lugar secundário na minha vida aparecendo apenas em sonhos e datas comemorativas. E aqui está a minha carência estampada na tela do computador.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Cat Power - Good Woman

I want to be a good woman
and I want for you to be a good man
this is why I will be leaving
and this is why I can't see you no more

I will miss your heart so tender
and I will love this love forever

I don't want to be a bad woman
and I can't stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
and I will love this love forever

This is why I am leaving
and this is why I can't see you no more
this is why I am lying
when I say I don't love you no more

I want to be a good woman
and I want for you to be a good man

terça-feira, 3 de junho de 2008

Paradoxo

No fim quem te pede desculpas sou eu. Desculpas sim, no plural, porque o(s) meu(s) erro(s) são dois: O bom e o ruim. É isso que eu tenho aqui dentro e é isso que tanto me atrapalha. Não vejo mal algum em ser toda ruim, eu brincaria e jogaria fora quando bem entendesse, mas você nem ia se machucar pois já ia saber que eu era toda ruim mesmo. Eu fingiria ser verdade e você fingiria acreditar. Eu não deixaria as coisas durarem até um ponto em que é crucial: ou vai ou fica. Eu seria o tempo todo fria e faria tudo errado. Então você me odiaria e a recíproca seria verdadeira. Começaria e acabaria com você sabendo que eu era ruim. Delícia. Mas também seria incrível se eu fosse toda boa. Eu falaria sério e levaria as suas palavras a sério também, as quais provavelmente seriam sinceras, já que você saberia que eu era toda boazinha mesmo. Haveria uma sinceridade mágica em nossos olhares. Eu te daria a eternidade, a qual seria o tempo todo quente e toda nos conformes. Então você me amaria e a recíproca seria verdadeira. Começaria e acabaria com você sabendo que eu era boazinha. Lindo. Mas não, eu venho aqui te pedir desculpas porque não deu tudo errado, mas também não deu tudo certo. Eu não fui quente o tempo todo, nem fria o tempo todo: eu fui um choque térmico. Eu te conduzi pelo meu labirinto sendo que nem eu mesma sei como sair dele. Eu não fingi e nem fui sincera, eu fui loucamente complexa e perdida em minhas próprias idéias, meus próprios sentimentos, minhas próprias vontades. Eu aturei teus piores defeitos e não consegui conviver com aqueles pequenos vícios que ninguém nem nota. Eu nos deixei ir fundo demais no poço, eu cheguei naquele momento crucial. Eu dosei. Não sei porque dizem que é tão certo dosar. Aqui deu errado. Deu muito errado. Eu não fui boa, nem ruim. Eu não fui eu mesma, mas também não fui outra. Eu fui uma metamorfose ambulante, uma confusão andante, uma nômade que se perdeu em você, ao invés de deixar que nos encontrássemos um no outro. Eu me contradisse, eu te contradisse. Eu confundi mais do que expliquei. Isso sim é um bom motivo para pedir desculpas: nem por maldade, nem por bondade, mas sim por uma autenticidade que nem eu sei explicar, que eu nem sei se existe. Eu peço desculpas, no plural, por não ser cara nem coroa e sim a moeda que ainda está rolando pela sala.